Por Reinaldo Azevedo
Publiquei ontem aqui um post sobre um troço absurdo ocorrido no Maranhão. Um grupo de militares — policiais e bombeiros — fez uma reunião em defesa da candidatura de Edivaldo Holanda Júnior, do PTC, à Prefeitura de São Luís. Havia um vídeo a respeito, que já foi violado pelos partidários do candidato, que é hoje homem de Flávio Dino, presidente da Embratur.
A situação já é absurda em si. A Constituição proíbe que corporações militares façam militância partidária. Tanto pior se essa militância se dá nos termos em que se viu naquele vídeo. Muito bem: aquele material já foi alterado pelos partidários da candidatura de Holanda Júnior. Acusam manipulação etc. e tal. Mais do que isso: dizem haver uma grande conspiração unindo o tucano João Castelo, adversário de Holanda, e José Sarney.
Os blogueiros amigos de Holanda — na verdade, ligados ao comunista do Brasil Flávio Dino — resolveram, ora vejam, afirmar que até eu participo dessa conspiração. Ulalá!!! Eu e Sarney juntos? Não me digam! Quem acompanha o que escrevo sabe bem a veracidade dessa acusação. Uma pobre delinquente intelectual tentou explicar como isso seria possível. É de rolar de rir.
Não! Eu não tenho candidato em São Luís. Nem sou tão versado na realidade local. Uma coisa é certa: acho que gente que faz proselitismo em porta de quartel ou que mobiliza militares — cuja função é garantir a segurança de todos, independentemente de sua coloração partidária — não pode ser eleita.
A turma de Holanda e Dino acusa manipulação do vídeo, edição etc. Conversa mole! Pouco importa se há edição ou não, o certo é que estas palavras estão lá e não mudam a essência do problema:
“[Quero] dizer também que nós temos uma missão árdua. Do dia de ontem até o dia da eleição, os militares têm uma missão e que nós não podemos aqui revelar. Nós sabemos que, até o dia da eleição, muitas coisas vão acontecer. E nós, militares, a nossa missão árdua, embora em menor número, mas jamais em desvantagem, mas nós vamos conseguir fazer com que o nosso adversário passe a respeitar um nome que já está prometido por Deus, que é Edivaldo Holanda Júnior, 36
(…)
“Pessoal, como já foi dito, nós temos aí uma missão especial. Nós temos aí um grupo de militares, de pessoas que já foram cadastradas. Nós temos uma missão a ser desenvolvida a partir de amanhã. A gente vai estar depois conversando com essas pessoas, né? A gente não pode falar aqui, mas a gente vai estar marcando o momento para reunir a portas fechadas com esse grupo (…) Detalhes da missão que a gente não vai dizer aqui…”
“É, serviço de inteligência. Nós não vamos aqui dizer porque é uma coisamuito louca. É PIOR DO QUE O GRUPO QUE MATOU OSAMA BIN LADEN.Nós sabemos quem são as pessoas que estão aqui. A gente vai ligar para as pessoas para marcar essa reunião porque, embora em número pequeno, mas nunca em desvantagem. Para acabar um grande exército, basta um grupo de elite, pequeno só. Nós temos essa capacidade. Nós temos essa tática militar.Por isso que o nosso comitê é feito diferente, para demonstrar o que nós somos aqui. (…) Vocês não têm identidade, tá certo? Ninguém tem identidade. O homem do Serviço de Inteligência não tem identidade. Ninguém sabe quem é ele, entendeu? (…) Nós temos um trabalho dentro da comunidade (…) E, aí, a partir de segunda-feira, dentro dos quartéis (…) Vamos mostrar para o nosso adversário que, com o 36 e com os militares, não se brinca”.
Retomo
Dizem agora que a tal “missão”, que não podia ser revelada, é a “singela visita às famílias” dos militares. É mesmo? E por que tratar esse trabalho “singelo” como missão secreta? O que haveria de errado em visitar as famílias? Isso, por acaso, é trabalho de “serviço de inteligência”, de gente que “não pode ter seu nome revelado”. Era a essas visitas que chamavam de “coisa muito louca”, “pior do que o grupo que matou Osama Bin Laden”? Holanda estava presente a uma das reuniões — na hipótese de que tenha havido mais do que uma. E discursou ali, o que é muito grave.
A Secretaria de Segurança Pública decidiu instaurar um processo administrativo para avaliar a conduta das pessoas que aparecem no vídeo. É o mínimo. Espero que resulte em punições. Militares detêm o monopólio do uso legal da força. Andam armados por expressa autorização da sociedade e servem ao conjunto da população. Um mero trabalho de visita às famílias não seria, por óbvio, retratado nos termos que se leem acima.
Ao acusar a manipulação do vídeo, os partidários de Holanda Júnior e de Flávio Dino pretendem manipular a realidade.
Ah, sim: de tudo o que já disseram de errado a meu respeito, certamente a acusação mais exótica é de ser aliado de… José Sarney!