Müller: ‘Joguei fora o que construí em 20 anos de carreira’

O Dia online:

POR MARLUCI MARTINS

Rio – O nome na história do futebol foi o que sobrou de valioso após 20 anos de uma bem sucedida carreira.Hoje, Müller não tem nem mesmo plano de saúde ou automóvel. Mora na casa do ex-lateral Pavão, amigo desde os tempos de São Paulo. Bicampeão mundial pelo Tricolor Paulista, em 92 e 93, e campeão pela Seleção na Copa de 94, o ex-atacante gastou todo o dinheiro que ganhou, passa por dificuldades financeiras e vendeu até mesmo a igreja da qual era pastor. O programa ‘Esporte Fantástico’, da TV Record, levantou a questão no sábado passado, e ontem, em entrevista por telefone ao MARCA BRASIL, um doce e constrangido Müller aceitou relatar o seu drama, como “um exemplo a não ser seguido”.

MARCA BRASIL: Até que ponto as dificuldades financeiras mudaram sua vida?

Müller: Sempre tive o futebol como meio de sobrevivência. E é assim até hoje. Mas não estou passando fome. Errei muito na vida. Tive bons momentos financeiros, mas errei. Fiz muita bobagem. Gastei tudo com besteira.

MB: Com que besteira?

M: Com mulheres… Não sei se é bom dizer isso. Ah, mas é a verdade. Pode escrever aí que eu gastei com mulheres, com carros e etc. Gastei com vaidades pessoais. Gastei dinheiro comamigos, entre aspas. Amigos de ocasião. Por eu ser uma pessoa generosa, muita gente se aproveitou mesmo de mim.

MB: Onde, aos 45 anos, encontra força?

M: Estou cheio de saúde e pronto para recomeçar. Acertei hoje com uma grande rádio para comentar o Brasileiro. Tenho vigor para recomeçar do nada. Estou muito feliz com o convite que recebi hoje para trabalhar. Era um objetivo voltar a ser comentarista.

MB: E a família, vive bem?

M: Minha mãe e meus seis irmãos levam uma vida normal. Tenho três filhos: Luis Müller, 23 anos, Mateus Müller, 18, e Gabriel Müller, 14. Meus filhos moram num apartamento próprio, o que é um alívio pra mim. Pelo menos isso, né?

MB: Você não tem nenhum imóvel?

M: Comprei vários imóveis ao longo da minha vida. Só fui perdendo, perdendo, perdendo… Hoje, não tenho nenhum.

MB: Você tem algum bem material?

M: Não, eu não tenho nada.

MB: Tem plano de saúde?

M: Também não tenho.

MB: Acha importante falar sobre esse assunto?

M: Não é fácil. Tenho dificuldades financeiras, sim. Espero que os jovens que estão começando não repitam o meu erro. O que eu quero agora é que Deus me dê força para recomeçar do zero. E ele está dando.

MB: Você tem noção de quanto dinheiro ganhou?

M: Não, mas foi muito. Nem sei calcular quanto perdi. Não sei se deveria dizer, mas eu perdi milhões. Perdi tudo que consegui no futebol. Joguei fora o que construí ao longo de 20 anos. Tenho caráter e isso não tem preço. É por isso que admito estar passando por isso.

MB:Você era pastor. Que fim levou a igreja?

M: Vendi o terreno e repassei a Igreja. Mas pretendo no futuro abrir outra.

MB: Não tem carro?

M: Não tenho carro.

MB: Teve quantos?

M: (Risos) Tive um monte de carros… Nossa!!! Muitos!!!

MB: Mais de 20?

M: Com certeza, tive bem mais do que 20 carros.

MB: Faltou orientação?

M: Pode até ser, mas isso não justifica o meu erro.

MB: Telê Santana não puxava a sua orelha?

M: (Risos) Puxava direto. Ele era um paizão. Mas… Olha, eu tomei decisões erradas. Fiz as piores escolhas. Foi isso.

MB: Gastou com drogas?

M: Ah, isso não. Graças a Deus, nunca usei. Eu nunca fumei nem mesmo um cigarro.

MB: Você mora na casa do Pavão e está construindo um ‘puxadinho’ na parte de cima. A ideia é ter um pouco mais de privacidade?

M: É, sim. Somos amigos, eu morava de aluguel e estava sempre na casa dele. Então, o Pavão me chamou pra morar lá. Faz uns seis meses que estou na casa. É boa. São quatro quartos e fica no Morumbi.

MB: De todas as perdas, sente mais falta de quê?

M: Futuramente, quero comprar um carro. Quem não tem carro em São Paulo está morto. Fora isso, nada me faz falta.

MB: Anda de ônibus?

M: Não ando de ônibus porque tenho vários colegas que têm carro. O próprio Pavão tem um. Então, a gente está sempre saindo junto.

MB: Sente saudade do tempo em que tinha dinheiro?

M: Deus me dá o privilégio de ter as coisas básicas de que preciso. Tenho casa, roupa e comida. Tenho o que uma pessoa precisa para viver.

MB: Alguma mágoa com o futebol?

M: Posso dizer que eu não sou exemplo pra ninguém. O futebol me proporcionou tantas coisas boas que não posso me queixar de nada. Tenho um nome e fiz uma história.

MB: Quando começou a dificuldade financeira?

M: Foi depois que eu saí da tevê, em 2009 (era comentarista do Sportv).

MB: Depois de trabalhar na tevê, você foi treinador do Imbituba, de Santa Catarina. Quanto ganhava lá?

M: Não preciso falar. Trabalhei lá de novembro do ano passado até abril. De 18 jogos, o time ganhou apenas três. E caiu para a Segunda Divisão. Sabe quando você vai apartar uma briga e acaba apanhando? Foi mais ou menos o que aconteceu comigo.

MB: Tem saudade dos tempos de jogador?

M: Não tenho saudade do futebol, nem da vida de rico que levei. Só tenho boas lembranças e isso é suficiente. Curti o que tinha que curtir. Agora, acabou.

MB: Fez amigos?

M: Tenho dois. O Pavão e o André Luís, que também jogou comigo. Você sabe… Não se faz muita amizade nesse meio.

 

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