Em carta de 1987 enviada um mês antes de seu aniversário de 80 anos ao amigo pessoal José Aparecido de Oliveira, então governador do Distrito Federal, Oscar Niemeyer, que morreu nesta quarta-feira (5), aos 104 anos, recusou convite para participar das comemorações programadas para a data.
No texto datilografado, o arquiteto afirmou que pretendia passar o aniversário “em completo anonimato” e afirma não ser merecedor das comemorações. “Primeiro, é um problema de consciência. Afinal muitos brasileiros que por maiores feitos os mereciam, não as receberam.” Na carta, de 13 de novembro, Niemeyer explicou que não se sentia “no direito de tantas honrarias”.
“Na verdade, meu amigo, passei pela vida como outro homem qualquer. Nada de excepcional. Os mesmos problemas de trabalho e subsistência, de sonhos, tristezas e fantasias”, escreveu. “Meu desejo hoje é passar meu aniversário em completo anonimato. Data que, a meu ver, não deve entusiasmar ninguém.”
Niemeyer se diz ainda apaixonado pela arquitetura. “Se trabalhei muito foi por ter como ofício um trabalho que me atraiu e apaixonou pela vida afora e se o desempenhei a contento foi porque o destino para isso contribuiu”, diz em outro trecho. José Aparecido, que organiza a festa para o amigo, morreu em 2007, de insuficiência respiratória.
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