Por Clodoaldo Corrêa e Leandro Miranda
Para a deputada federal Eliziane Gama (PPS) não é correto colocar a culpa no grupo Sarney por problemas na administração da capital. Na visão da pré-candidata à prefeitura de São Luís, o grupo Sarney morreu enquanto grupo político. Em entrevista exclusiva aos Blogs Marrapá e Clodoaldo Corrêa, Eliziane fala sobre a atuação na Câmara Federal e suas pretensões nas eleições de 2016.
A deputada afirmou que o presidente da CPI da Petrobrás está segurando a votação das convocações e quebras de sigilo de figurões da política. Entre eles, estão a ex-governadora Roseana Sarney e o senador Edison Lobão. A deputada garante que já existem elementos para indiciamento destes políticos.
Considerando que a fusão entre PPS e PSB é fato consumado, Eliziane afirma que existe acordo para que o PPS comande o novo partido em São Luís e o PSB fica com o controle estadual.
Eliziane afirma que a chance de ter o PMDB em seu palanque em 2016 é zero. Para Eliziane, não fazer campanha para nenhum candidato, já será um gesto de apoio do governador Flávio Dino a todos os seus aliados candidatos.
Deputada, já praticamente findando os quatro primeiros meses do mandato, quais são as principais diferenças e quais suas impressões sobre o parlamento estadual e federal?
O parlamento federal é mais intenso na atuação nas comissões, que funcionam de uma forma muito frenética. Elas funcionam muito fortes na quarta e na quinta-feira. Eu participo de duas comissões e da CPI da Petrobrás. E ainda assim, eu não tenho conseguido tomar café, almoçar e lanchar. Aqui, as sessões são rápidas. Lá, em geral, tem três sessões ao dia. Pra mim, não senti tanto porque sempre tive uma vida muito intensa aqui também, atuando em comissões e promovendo muita audiência pública.
A senhora tem tido atuação destacada na CPI da Petrobrás. O que a CPI tem de resultado prático até o momento?
A CPI da Petrobrás em comparação com outras é a que teve mais resultado. É a que mais buscou informações, que mais quebrou sigilos, é a mais atuante. Já estamos no meio da CPI, mas devemos prorrogar um pouco mais. Mas estamos evoluindo. Conseguimos elementos pra prisão do Fareman [ex-representante da empresa holandesa SBM Offshore] e quebramos dois sigilos bancários. Porém, poderíamos ter votado algumas convocações. Eu pedi do Palocci, do Dirceu, de todos do Maranhão. Mas ainda não foram votadas e é uma decisão do presidente da Comissão. Em linhas gerais, já temos elementos pra fazer vários indiciamentos.
Com relação aos personagens da política maranhense, já existem elementos para indiciamentos ou até pedido de prisão?
Os depoimentos do Youssef e do Paulo Roberto Costa afirmam que houve pagamento de propina para os maranhenses envolvidos: Roseana Sarney, Edison Lobão e Waldir Maranhão. Agora eu vejo que não é somente o depoimento, mas precisamos das quebras de sigilos deles. Eu pedi a convocação dos três e a quebra do sigilo. Porque, isso leva ao crime, ao local do crime. Precisamos evoluir, embora os depoimentos sejam consistentes para fazer o indiciamento. Tanto que só você ter uma lista do procurador geral da República, já vem de uma investigação e já vem com vários elementos. Não é uma coisa aleatória. Já poderíamos indiciar e remeter à Polícia Federal. Eu protocolei a convocação de todos da lista Janot e agora depende do presidente da CPI. Acredito que não aprova, porque já sinto que os figurões da política têm uma proteção dentro da própria CPI. E estamos tentando forçar a barra pelo menos para colocar na ordem do Dia. Porque quem votar contrário, tem que ter o ônus de ser contra.
Deputada, e quanto à reforma política, qual o seu posicionamento quanto a alguns temas polêmicos como o fim da coligação proporcional, voto distrital e fim da reeleição?
Acho que a coligação proporcional precisa continuar. O voto proporcional dá representatividade partidária. O voto distrital elimina a ideologia partidária porque você vota nas pessoas. No mundo inteiro, estão correndo para o fortalecimento dos partidos, por conta dos ideais, no Brasil, estamos andando na contramão, no voto das pessoas. E vemos que, muitas vezes, pessoas com uma votação menor têm muito mais representatividade do coletivo do que figurões com grandes votações, assim como o inverso pode acontecer. Então precisamos equilibrar. O distrito elimina tudo isso. Agora, sou a favor do mandato de cinco anos sem reeleição. A eleição coincidente eu tenho reservas. Mas, é prática que na reeleição não se faz nada e praticamente se paga conta da eleição anterior. Mas quatro anos é muito pouco, acho que cinco é o ideal para um mandato minimamente necessário. Acho que precisamos de cotas para as mulheres, como necessidade provisória, com data de validade.
Como está o processo de fusão do PPS e PSB? E com a concretização, como fica o partido no Maranhão?
A fusão é um fato. Pra mim, já está consolidado e será oficializado dia 20 de junho. O PPS tem um pleito de candidatura em São Luís. E o Roberto Freire [presidente nacional do PPS] colocou isso desde o começo. Ele condiciona o controle do partido em São Luís para garantir a candidatura. Assim, o PSB comanda no estado e o PPS em São Luís. A minha afinidade com Roberto Rocha é grande. Ele é um aliado do nosso projeto e acredito que ele estará comigo.
Deputada, a senhora se apresenta como pré-candidata a prefeita de São Luís, com bons índices em pesquisas. Existe o comentário nos bastidores que poderia haver um acordo para que a senhora seja candidata a vice na chapa do prefeito Edivaldo. A senhora será candidata sob qualquer circunstância ou haveria alguma possibilidade de não ser candidata?
Eu nunca sentei com ninguém para tratar desse assunto, nem fui interpelada por ninguém sobre isso. São ilações que surgem e vão surgir outras. Tudo isso é fruto de nossas atuações. Nas eleições estaduais, apoiamos o Flávio porque era necessário inaugurar um novo momento para a política maranhense. Eu jamais poderia carregar sobre os meus ombros a culpa por não permitir isso ao Maranhão. Hoje, temos um cenário novo com o projeto doPPS de candidatura própria e estamos determinados a isso. Mas como sou uma seguidora de Deus, eu jamais direi o “nunca” e o “sempre”, que são palavras muito perigosas. Mas a possibilidade de eu não ser candidata é irreal. Para o PPS, é prioridade nacional a candidatura em São Luís. Seria um suicídio para o nosso nome. A população quer e seria uma decepção para o povo eu não ser candidata. Só algo alheio as minhas condições humanas faria eu não ser candidata.
Nas tratativas com outros partidos, acredita que pode ter o apoio de PP, PTB e PSDB?
O PP hoje tem pré-candidata que a vereadora Rose Sales e eu tenho muito respeito por ela. É uma pessoa de índole ilibada e uma das melhores pessoas que conheci na política. Por isso, eu respeito a decisão do PP e dela. Com o PTB e o DEM existe uma possibilidade real porque os partidos estão muito próximos de uma fusão. O DEM é aliado em Brasília. A fusão dará condição de uma aliança. O PSDB tem possibilidade pela aliança nacional. Converso com Aécio Neves frequentemente. O Luís Fernando tem dito que é pré-candidato em Ribamar e por isso, espero que o caminho do PSDB seja conosco também.
E com o PMDB?
Nenhuma chance com o PMDB e não existe disposição da nossa parte. É divergente daquilo que trabalhamos. PMDB e PT não existe possibilidade pela divergência nacional.
A senhora falou da sua boa relação com a vereadora Rose Sales, que agora se apresenta como pré-candidata. Ela atua nos mesmos segmentos que são movimentos sociais, sindicais, evangélicos. Até que ponto a candidatura dela atrapalha ou “toma” parte do seu eleitorado?
Eu propus na eleição passada que a Rose fosse candidata a deputada estadual pra fazermos uma parceria, inclusive ela nos apoiou em 2010. Mas ela achou que seria melhor ser candidata a federal. Obviamente, que se ela não fosse candidata, a nossa votação no ano passado em São Luís iria aumentar muito, porque acho que, de fato, é o mesmo eleitor. Claro que tira e divide, mas o processo é democrático. Acho que a eleição será de dois turnos e, sendo assim, estaremos todos juntos no segundo turno.
O orçamento de São Luís em 2015 é de R$ 2,7 bilhões. O município gasta pouco mais que metade disso só com pessoal e o restante praticamente só dá para o custeio. Com a situação econômica desfavorável e governo federal cortando investimento, como conseguir recursos para investir na infraestrutura da cidade que tanto precisa?
Governar São Luís é desafiador. Teremos dois desafios enormes: o da eleição e do governo, que é bem maior do que a eleição por estas condições que vocês colocam muito bem. Mas não podemos por conta disso, fazer o que vem sendo feito nos outros processos eleitorais. Você ganha a eleição, assume e diz que não faz porque não tem dinheiro. Precisa refazer o remanejamento de prioridades. Precisa enxugar. Existem secretarias que só trazem gastos. É preciso em um primeiro momento ajustar esta quantidade de secretarias. Você já tem pouco dinheiro e ainda não aplica onde deveria. A falta de prioridade é o primeiro. E precisa procurar parcerias não só com governo federal e estadual, mas com organizações internacionais e com a comunidade. Também não se pode culpabilizar e dizer que não fez porque não era aliado do governo. Jackson Lago foi o melhor prefeito do Brasil sendo adversário dos governos estadual e federal. Na Bahia, ACM Neto é oposição aos governos estadual e federal e é hoje o melhor prefeito do Brasil. Porque soube colocar prioridades e procurar parcerias. O PPS começará agora a trabalhar os cinco eixos para ouvir a população e dizer o que ela quer para a comunidade. Dizer como aplicar o recurso. Envolver a cidade. O Orçamento participativo deve ser resgatado para funcionar de verdade, envolver a cidade. Esse planejamento é que precisa acontecer em São Luís.
Deputada, a senhora falou em ouvir a comunidade, e claro, a comunidade quer tudo de melhor, e estando em suas mãos a decisão, olhando a cidade hoje, com pouco recurso, qual seria a prioridade de um eventual governo Eliziane para investir em São Luís?
Uma mãe entende dentro da sua casa a necessidade básica. A mãe não vai comprar roupa nova se a criança precisa comer três vezes ao dia. São Luís está em uma situação que precisa do básico. Um prefeito que não consegue fazer as crianças terem aulas deveria ser impeachmado. Porque não está dando o fundamental. Assim, não tem comunicação que resolva. Antes, você pegava uma pesquisa e a mobilidade urbana estava lá na frente. Hoje, está equiparado saúde, educação e violência, que não é do estado, mas o município tem sua parcela. Mas no meu entendimento, a prioridade da cidade é ter aula. A mobilidade tem que ser resolvida, embora seja um problema nacional, mas em São Luís está agravado, porque o elementar não está sendo feito. Mas o nosso carro-chefe será a educação. Boa parte dos grandes escritores brasileiros são de São Luís e precisamos resgatar este sentimento. E não vamos resgatar com o adolescente, mas na criança de 6 e 7 anos.
E na sua visão, quais os principais problemas da educação municipal? Mais professores? Melhores salários? Mais escolas? Melhorias das existentes? E como, de forma prática, resolver?
É um pouco de cada. As escolas estão insalubres e por isso a evasão aumenta. Mas precisamos de mais escolas. Temos que te escolas de tempo integral. Por isso precisamos construir novas escolas dentro do planejamento para este modelo. E precisamos reformar as escolas existentes. No governo de Tadeu, ele reformava uma escola por mês. Precisamos ter equipe de captação de recurso e projeto eficiente para elaborar os projetos e buscar os recursos no governo federal. Te que ser eficiente para elaborar e buscar o recurso.
Como a senhora avalia o governo Edivaldo e a senhora não imagina que ele foi prejudicado pelo grupo Sarney?
Essa ideia de colocar a culpa no grupo Sarney passou. Não existe mais. O grupo Sarney morreu, enquanto grupo político. Dizer que o grupo Sarney é culpado por todos os problemas é uma tentativa de fuga que não cola mais. Como citei antes, o Jackson Lago foi o melhor prefeito do Brasil sendo oposição ao grupo Sarney. Então eu só vou ser bom se o governo me ajudar? Precisa entender que você é eleito para essa finalidade. A oposição tem que existir mesmo. E ela existe para te fazer melhor. Agora, sobre a gestão, conseguiu ser o que ninguém imaginava. Quando me pediram para apoiá-lo eu não fui porque eu vi que o plano de governo era uma peça de marketing. E ele conseguiu ser o que os piores pessimistas não previam. O governo está muito ruim e não temos dias promissores infelizmente. E digo, infelizmente, porque trás uma culpa para uma geração. O grande problema é que ele não foi o prefeito. Claro que é difícil administrar uma cidade do tamanho de São Luís com o orçamento pequeno, mas você tem que se debruçar no problema ou ver a coisa passar.
A senhora espera que o governador Flávio Dino apoie sua candidatura?
Apoiar de fazer campanha não. Vai apoiar minha candidatura como vai apoiar a Edivaldo. O governador é governador dos 217 municípios. Eu não tenho dúvida que ele vai apoiar no sentido de deixar as candidaturas à vontade. O governador deixou claro inclusive isso nos encontros que ele tem dito conosco.