Professor e vendedor de ‘cremosinho’ é aprovado para medicina na UFMA

Aos 18 anos, o maranhense Cleyton Domingos dos Santos Campos já consegue visualizar um futuro bem diferente do que viveu até hoje, enfrentando dificuldades financeirascom a família no município de São Bento, na região da Baixada Maranhense. Filho de um agricultor e de uma vendedora ambulante, ele, que estudou a vida inteira em escola públicano interior do estado, é um dos aprovados nocurso de Medicina da Universidade Federal doMaranhão, em Pinheiro (a 333 km da capital).

A notícia o transformou em personalidade na baixada maranhense. Na última semana, até o reitor da UFMA, Natalino Salgado, fez uma visita ao rapaz para parabanizá-lo pela conquista. Na oportunidade, afirmou que o estudante vai contar com uma vaga na Casa do Estudante.

Aluno dedicado, ele conta que sempre viu na televisão um canal de aprendizado, além de revistas e livros. Apesar do apreço pelos estudos, as condições financeiras da família nunca o permitiram ser estudante em tempo integral. Para fazer uma renda extra, dava aulas particulares e também ajudava a vender cremosinho (uma espécie de sorvete) em casa.

Atualmente mora em casa alugada, com a mãe, o padrasto e um dos seis irmãos. “Aqui no interior é muito comum serem vendidos nas casas alguns produtos para o complemento da renda da família, como cremosinho, cheiro verde, cebola. Nós vendemos cremosinho e, sempre que estava em casa, vendia também”, explicou.

Antes de ser aprovado para Medicina, ele já havia conseguido aprovação para o curso de Química Industrial, em 2012, em São Luís, mas não conseguiu cursar por causa da distância e das dificuldades. O resultado obtido no Exame Nacional do Ensino Médio de 2013 também lhe garantia uma vaga no curso de Medicina da UFMA de São Luís – o mais concorrido do estado -, mas a distância novamente o fez mudar de planos.

“Entrar no curso vai significar um custo muito alto, porque é integral e eu não vou poder ajudar mais minha família. Na verdade, vai ser um desafio me manter, a não ser que minha mãe ou meu padrasto consigam um emprego fixo. Para isso, queria contar com a ajuda da iniciativa privada, ou mesmo do poder público”, diz Cleyton, para quem as aulas começam no fim do mês de março.

Planos
Uma vez formado, quer seguir como neurologista. Apesar de ver na aprovação em nível superior uma oportunidade para mudar de vida, ele prefere pensar em como vai poder contribuir com a sociedade. “A parte social, para mim, é muito mais importante do que a parte científica. Eu quero ajudar as pessoas mesmo. Aqui na baixada há muita dificuldade para arranjar consultas. Minha prioridade é social, é humana”.

E como todo jovem sonhador, Cleyton pretende não apenas se formar e garantir um emprego. “Meu sonho é me formar e ajudar pessoas que tenham sonho em ter formação em nível superior, com projetos sociais. Quero abrir escolas, hospitais, clínicas, eu quero empregar pessoas novas. Eu foco muito nisso, em dar oportunidade a outras pessoas”.

G1/maranhão

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